terça-feira, 9 de outubro de 2007

BORBOLETAS EM PORTUGAL - A CHEGADA DA MONARCA

Este é o titulo de um artigo do jornalista Gil Montalverne, que se pode encontrar na revista Atlantis de Setembro/Outubro de 2007 da TAP e que passo a transcrever:
"A monarca é considerada a mais célebre das borboletas migratórias. Originária do continente americano, pode hoje em dia ser observada em Portugal continental e ilhas, para júbilo dos especialistas e amantes da natureza. Saiba como encontrá-la!
A monarca percorre milhares de quilómetros num voo regular que a leva desde o Canadá, através dos Estados Unidos, até ao México onde o Inverno é menos rigoroso, permitindo-lhe aí permanecer até ao início da Primavera, quando retoma a viagem em sentido inverso para alcançar de novo as regiões de onde partiu. Atravessa também desde há muito o Atlântico até à Europa, forçada pelos ventos; ocasionalmente pode fixar-se se encontrar a planta hospedeira (Asclepia curassavica) de que necessita para depositar os ovos e da qual as lagartas se alimentam. Assim aconteceu na Madeira, Açores e Canárias, onde encontrou um clima extraordinário para viver e reproduzir-se várias vezes durante o ano. No continente há muito que eram observados exemplares já mortos ao longo da costa mas não qualquer sinal de colónias residentes. E enquanto no Reino Unido os especialistas e entusiastas se esforçam por distribuir sementes da planta hospedeira para tentar que esta cresça e a monarca se fixe, eis que ela pode agora ser observada em Portugal continental, em locais determinados do litoral algarvio até à fronteira com o sudoeste alentejano. E tudo isto porque ali encontrou a sumaúma-bastarda ou pepino de seda (Gomphocarpus fruticosus), um arbusto de origem afro-tropical da mesma família da sua planta hospedeira, que terá sido trazido para produção de fibras têxteis e se dispersou ultimamente pelos terrenos húmidos das margens de ribeiras que lhe são mais propícios. Descoberta feliz para aquela que é uma das mais célebres representantes do seu grupo e naturalmente para nós, que assim podemos usufruir da sua presença.
A monarca, nome comum da espécie Danaus plexippus, é uma grande e vistosa borboleta, muito resistente, com asas vigorosas de forte intersecção ao tórax. Assim consegue voar durante vários dias sem descanso, na sua migração anual Canadá - México de 2900 km ou os 6000 km, trazida pelos ventos, que separam a costa norte-americana da Ilha da Madeira. O seu ciclo ovo/lagarta/crisálida/borboleta completa-se em muito pouco tempo, cerca de 28 dias, mas pode, em certas circunstâncias, viver durante vários meses até acasalar e cumprir a sua função reprodutora, quando as condições o permitem. Se a temperatura for muito baixa, como sucede no México, entra num estado de semiactividade ou diapausa, resistindo longos períodos que podem atingir os 3 meses, alimentando-se muito pouco e sem gastar energia. A nossa observação pessoal na Ilha da Madeira notou as mesmas fases da metamorfose quatro vezes num ano. Onde efectuará a diapausa, se a faz, não se sabe. O certo é que os interessados podem vê-la em Portugal continental entre os meses de Maio e Outubro em diversas áreas das periferias noroeste e sul da Serra de Monchique, ao longo de várzeas fluviais, onde exista a Gomphocarpus fruticosus, mas também no litoral meridional e ocidental do Algarve.
No entanto a maior colónia de residentes está localizada na ribeira de Seixe, onde foi inicialmente detectada em Julho de 2001 pelo biólogo Luís Palma, que alertou para a hipótese de se tratar de uma população reprodutora. Das observações que se seguiram pelo biólogo Bívar de Sousa, ficou definitivamente confirmado que se tratava de uma colónia residente com centenas de indivíduos, associada aos núcleos da planta Gomphocarpus, intercalados por áreas de utilização agrícola ou pastoril, numa extensão de cerca de 10 km ao longo da Ribeira de Seixe. Nós próprios o constatámos e fotografámos, tendo observado ovos, lagartas, crisálidas e mesmo monarcas voando nas proximidades da foz a caminho das praias. É de facto a maior colónia no continente em dimensão e densidade.
A monarca coloca apenas um ovo em cada folha da planta hospedeira para que não haja competição, pois a lagarta é extremamente voraz e chega a devorar as mais pequenas. Come folhas, rebentos, flores e até os próprios revestimentos que perde durante as mudas. Não tem predadores porque, alimentando-se de plantas que contêm toxinas, estas incorporam-se e mantêm-se em todas as fases desde a lagarta à borboleta. A crisálida em que se transforma fica pendente durante cerca de 12 dias parecendo uma pequena caixa de jade com pontos dourados e só na véspera da eclosão se notam através da cápsula os desenhos das asas. Na manhã seguinte rompe-se e a magnífica borboleta liberta-se para nos dar a visão do seu voo elegante planando na paisagem."
Esta é a transcrição da maior parte do artigo que termina com uma descrição mais ou menos pormenorizada do precurso que leva ao local de observação, que colocarei no próximo blog.

1 comentário:

Gil Montalverne disse...

Este é um dos problemas/vantagens da web 2.0. Um artigo meu, completo ou aunciado para completar mas de que está identificado o autor. Gostaria apesar de tudo de ter sido contactado pois a Direcção da Revista Atlantis daria de imediato a indicação dos meus contactos ou dir-me-ia quem me desejava contactar para tal efeito. Não é que me sinta "delapidado" antes pelo contrário divulgado. Lamento apenas não o conhecer "electronicamente". Saudações cordiais.